1º Erasmus Lisbon Bike Tour
Da cota 4m à cota 85m: Praça do Comércio » Saldanha
(O grupo antes do arranque, na Praça do Comércio)
Um passeio excepcional para desmistificar as inclinações da cidade de Lisboa. Estudantes estrangeiros em erasmus em Lisboa, de 7 países diferentes, pedalaram comigo da cota mais baixa da cidade, para um dos pontos mais altos, no planalto central.
(O grupo no Marquês de Pombal)
Palavras para quê. Fica aqui o texto (com pequenas alterações), publicado hoje no Jornal Público.
"Alunos universitários e turistas reuniram-se ontem na Baixa lisboeta para mostrar que é possível pedalar na cidade apesar das muitas descidas e subidas. Argentina, Polónia, Finlândia, Lituânia, França, Espanha, Brasil, Alemanha. Sete países, 15 bicicletas. O que estava previsto ser um passeio de estudantes do programa Erasmus alargou-se também a turistas, ontem, na Praça do Comércio, em Lisboa. Eram três da tarde e o tempo parecia ajudar os ciclistas, muitos deles habituados a pedalar debaixo de temperaturas negativas. "Encomendei o sol", brincava Paulo Santos. Ainda a elaborar a tese de mestrado 100 dias de bicicleta em Lisboa, o professor e engenheiro civil desafiou "estudantes Erasmus das chamadas cidades planas" para provar, ou não, que a capital é "ciclável". Porque, diz o especialista em vias de comunicação e transportes, "Lisboa é, afinal, um grande planalto". Era a primeira vez para quase todos, ontem na Baixa lisboeta. Mas para Löic Lhopitallier, um francês há três anos em Lisboa, a história era diferente. O estudante de Medicina, que não larga as duas rodas nem para ir às compras, diz que os grandes problemas da capital alfacinha não são as sete colinas, mas o trânsito, a calçada portuguesa e os buracos. "O pior que me aconteceu foi descer a Avenida do Brasil a alta velocidade e encontrar um buraco. Fiquei com os pneus quadrados". Mas ontem, os 4 km correram sem percalços. Da Praça do Comércio ao Saldanha (cerca de 85 metros acima do nível médio do mar), na via de Bus, os comentários, contou Paulo Santos, eram sobretudo "sobre o facto de não existirem ciclovias". Sobre as míticas subidas, Adam R., estudante de Erasmus, habituado a utilizar a bicicleta na Polónia, garantiu que "a subida não é nada de especial". "Colinas? Também tenho montanhas na minha cidade". O passeio serviu também para provar a Leandro Gatti, um argentino a quem os colegas portugueses aconselharam a não comprar uma bicicleta - com o argumento de que "em Lisboa são só subidas e descidas" -, que as subidas, pelo menos as que ontem transpuseram, não são um problema. Paulo Santos reconhece que o mesmo não se poderia dizer de uma ida ao Castelo, por exemplo, mas a isso responde que "70 por cento dos fluxos de pessoas na cidade são feitas à beira-rio, pelas avenidas novas e transversais". Para os restantes 14 dias, que faltam para completar a centena de jornadas para a realização do estudo, o engenheiro pretende convidar comunidades de imigrantes a fazer o mesmo percurso. Ao final da tarde, o francês, o polaco, o inglês e o espanhol misturavam-se com "pasteles de nata" no Martinho da Arcada e conversas sobre subidas e descidas, cidades e bicicletas. Entre os habitantes das tais cidades planas de que falava Paulo Santos, as opiniões eram unânimes: é possível pedalar na capital. E depois destes 100 dias?"Fazer mais 100, agora só deixo de andar de bicicleta em Lisboa se sair daqui."
(Descida pela Avenida da Liberdade, sem zonas cicláveis definidas)
Quero só acrescentar que inicialmente estava previsto dar um saltinho ao Parque Eduardo VII, mas por falta de tempo, e por o principal objectivo estar cumprido (chegar ao Saldanha e obter as opiniões deles), optei por regressar novamente à Baixa.
Nota final 1: nos inquéritos que lhes pedi para preencherem, só uma pessoa se mostrou um pouco cansada. Um jovem francesa, que NÃO utilizava a bicicleta há anos. Contudo, notava-se-lhe um sorriso estampado no rosto por ter participado nesta iniciativa e conhecido a cidade de Lisboa de bicicleta, de uma forma rara para os turistas da cidade.
Nota final 2: A grande crítica à cidade de Lisboa não foi sequer as inclinações, mas sim a total inexistência de zonas definidas para ciclistas. Foi uma grande e desagradável surpresa para todos. Esperavam mais respeito dos responsávei políticos para com qeum nos visita.
(Perpectiva do "Martinho da Arcada", que ofereceu o lanche aos estudantes)
Agradecimentos:
À Biclas.com e ao Vitor Branco pelo apoio e pelas bicicletas emprestadas,
Ao António Sousa do Martinho da Arcada,
À Daniela Gouveia do Jornal Público,
A todos os portugueses que por lá apareceram e que também emprestaram as suas bicicletas,
Aos agentes da Polícia Municipal, que gentilmente nos "acarinharam" e escoltaram.
Ao Telmo Braga, que gentilmente me cedeu a sua "Canon" para registar estes momentos fantásticos.
Ao Hugo Jorge pelo apoio à promoção deste projecto,
Aos condutores da Carris e Táxistas que pacientemente se desviaram da sua faixa BUS, que nós, por questões de segurança, ilegalmente utilizámos.
E especialmente a todos os estudantes e turistas estrangeiros a quem "roubei" uma tarde, bem passada espero, e que aceitaram este desafio.
Em breve coloco disponível o relatório deste passeio, com as estatísticas dos inquéritos realizados ao chegar ao Saldanha.
Maiores cumprimentos.
Paulo Santos
5 comentários:
Parabéns pela excelente iniciativa!! Tenho pena de não ter podido estar presente.
"Paulo Santos reconhece que o mesmo não se poderia dizer de uma ida ao Castelo", que obsessão tem esta "gente" (neste caso o jornalista) pelo Castelo.. A ida ao Castelo deve corresponder a 0,00000001% das deslocações em Lisboa.
Foi curioso: Horas antes de pisar o aeroporto da portela, já lia ecos desta inciativa (no Jornal Público q distribuem no avião). Em Paris, aproveitam e "alargam" as faixas BUS aos ciclistas. Continuação de bom trabalho.
Paulo, tens aí na mensagem de bb, uma óptima proposta para Lisboa! O alargamento das faixas BUS, permitindo que seja partilhada com as bicicletas. Uma medida muito fácil para ser implantada e que requer somente boa vontade.
A BB passou uns dias em Paris e reparou como é fácil, rápido e barato definir corredores exclusivos para bicicletas, no pavimento de qualquer via. E ao lado da faixa do Bus é um exemplo excepcional disso. Até pela extrema segurança que dá aos ciclistas, pois esta via é utilizada exclusivamente por profissionais que fazem centenas de milhares de kms. Sabiam que a Carris está no topo das melhores transportadoras mundiais no que diz respeito à percentagem de acidentes por milhão de kms percorridos? Eu confio imenso nestes profissionais que, muitas vezes, pacientemente, seguem marcha atrás de mim, sem me pressionarem. Mesmo na via de BUS :)
Não tenho dúvidas que em breve iremos ver avenidas com a Fontes Pereira de Melo ou Duque de Loulé com uma pinturinha e muitas bicicletas desenhadas no chão :)
Cumprimentos.
Paulo Santos.
Descobri o seu blog há uns meses atrás e de certo modo revi-me nas suas peripécias e aventuras na bicicleta, embora de forma bem diferente da sua.
Nunca tive bicicleta e mal sabia andar.
Comprei a minha primeira BTT há precisamente 3 anos (início de Junho de 2005)e comecei por dar uns passeios na Expo aos fins de semana...
Bem... foram quase todos os fins de semana!...
Num instante foram quase 3.000 Kms!
Destes, mais de 2.500 Kms feitos:
- primeiro na Expo;
- depois no eixo Rio Trancão, Sta. Apolónia;
- depois ganhei alguma confiança e passei a sair de casa com a bicicleta em vez de transportá-la no carro até à Expo. Para que se saiba Portela de Sacavém - Expo -Sta.Apolónia - Rio Trancão-Portela são 29,5Km.
- Agora mais recentemente atrevi-me a passar a "barreira", digo e repito "barreira" (porque aquilo ali para quem não quer por a roda no meio do transito, é uma verdadeira barreira de passeios, degraus, tapumes,...) entre Sta. Apolónia e Cais do Sodré e já fui até à Torre de Belém (ida e volta 46Km).
Bem isto tudo para dizer que embora não utilize a bicicleta em deslocações dentro de Lisboa (trabalho nos arredores e na minha profissão necessito da viatura quase todos os dias), descobri que a utilização frequente da bicicleta nos dá uma grande rsistência física e agora 40Km representam menos esforço/dificuldade do que 15Km há 3 anos atrás.
Ao ler o seu blog achei piada e revi-em nas suas afirmações quando afirma "hoje fui até ao Marquês...", "subi até ao Saldanha...".
Garanto-lhe que depois dos 100 dias de bicicleta em Lisboa, se continuar, daqui a 2 anos "ir ao castelo" será algo perfeitamente acessível desde que disponha de um bom conjunto de mudanças e as utilize correctamente.
Faltam realmente na nossa cidade três coisas:
- Condições para o ciclista (tanto acessibilidade como de segurança);
- Cultura da bicicleta;
- Educação e respeito pelo ciclista (confesso que cada vez que venho para a "rua" sinto sempre presente o risco que se corre no meio do trânsito). A maioria dos condutores não nos vê, ou não quer ver.
Esperemos que agora que o Cais das Colunas e as obras do Metro na baixa parecem aproximar-se do fim, seja possível ver nascer um eixo para peões e ciclistas entre o Rio Trancão e Belém.
...
Bem é que de Belém a Oeiras já não falta tudo (junto às margens do rio).
.. já não peço...
Rio Trancão - Guincho....
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